Museu Florestal Octávio Vecchi anuncia restauro aberto do tríptico de Hélios Seelinger

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| Paula Regina Di Francesco Picciafuoco |

A partir de março de 2018 se iniciou, no Museu Florestal Octávio Vecchi, um trabalho de restauração do tríptico do artista Hélios Seelinger, um óleo sobre tela de grandes dimensões (7,00m x 3,90m) que representa três episódios da história de São Paulo: o descobrimento do litoral de São Vicente, por Martim Afonso, uma bandeira chefiada pelo bandeirante Fernão Dias Paes Leme, e a cidade de São Paulo com seus arranha-céus.

Nascido no Rio de Janeiro, Hélios Seelinger (1878-1965) estudou na Alemanha e trouxe para suas obras aspectos da estética de Stuck [1], sobretudo as tendências simbolistas. O trabalhou no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e a participação na Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, influenciaram seus quadros que passaram a representar lendas brasileiras e manifestações culturais típicas do Brasil.

O trabalho de restauração da obra de Seelinger será realizado pela professora especialista Josy Morais, do Núcleo de Artes, Conservação e Restauração (NAR), e por alunos concluintes do Curso de Restauração de Pinturas sobre Cavalete do Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS).

Para a realização desse projeto foi estabelecida parceria entre o Instituto Florestal, responsável pela gestão do Museu Florestal e vinculado à Secretaria de Meio Ambiente do governo do Estado de São Paulo, o Núcleo de Artes Conservação e Restauração (NAR) e o Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS).

O MAS realizou em 2016 a primeira edição do Curso de Conservação e Restauro de Pintura sobre Cavalete, que aborda os procedimentos adotados no restauro de obras de arte nas diversas fases de intervenção, promovendo aprendizado teórico e prático aos interessados em atuar nessa área.

O NAR é um centro de pesquisas com a missão de preparar os alunos, tornando-os profissionais altamente qualificados e comprometidos em oferecer suportes intelectuais nos diversos segmentos da conservação e restauração. “O NAR tem a missão didática e de divulgação, não só da importância da preservação de nossos bens culturais, como também da atualização e aprimoramento de nossos profissionais conservadores-restauradores”, explica Josy.

Munidos de todo o conhecimento adquirido nos cursos realizados no Museu de Arte Sacra e com o apoio e coordenação de profissionais especialistas na área de conservação e restauro, os alunos farão o trabalho de restauração, passando pelas várias etapas desse processo, como documentação, registro fotográfico documental, fixação de policromia, testes de solubilidade, análise estrutural de suporte, nivelamento e recomposição cromática.

A coordenadora do restauro elogia a coesão da equipe, além da maestria e da técnica com as quais o trabalho está sendo executado. Josy conta que o restauro aberto é uma prática bastante comum na Europa, mas ainda rara no Brasil. “Os técnicos realizam o restauro com a oficina aberta à visitação do público, ficando sempre um técnico responsável por dar as devidas explicações aos visitantes sobre o trabalho, a obra e a importância da profissão”, revela.

Sobre o Museu

 O Museu Florestal Octávio Vecchi era uma seção técnica do Serviço Florestal (que passou a Instituto Florestal em 1970). A mudança de denominação do Museu Florestal, com o acréscimo do nome de Octávio Vecchi, ocorreu no final da década de 1940. Foi inaugurado em 1931 e está localizado no Parque Alberto Löfgren, mais conhecido como Horto Florestal. Seu acervo é composto de mostruários de madeira e sementes que retratam a história da flora lenhosa do Estado de São Paulo. Peças de marcenaria, xilografia, marchetaria e charão (laca japonesa), além do grande painel de Hélios Seelinger, completam o acervo do museu.

A visita ao museu proporciona observar as riquezas das nossas florestas, bem como o uso racional dos recursos florestais que vão além do manuseio da madeira e sua aplicação na construção e decoração de ambientes, como a utilização de espécies florestais para a fabricação de medicamentos na indústria de cosméticos etc. Mostruários de madeiras encontradas em São Paulo e os ambientes do museu completam o rico acervo que este apresenta aos seus visitantes.

Todas as primeiras sextas-feiras e sábados do mês, o Museu Florestal abre suas portas para a equipe realizar o trabalho de restauro e se transforma num grande laboratório aberto. Venha visitar o Museu e vivenciar essa experiência inesquecível.

Fig.1. O tríptico de Hélios Seelinger. (fonte: foto de Paulo Andreetto de Muzio, 2018).

Fig.2. Remoção do chassis da tela que representa o descobrimento do litoral de São Vicente. (fonte: foto de Silvana Borges, 2018).

Fig.3. Alunos realizando a fixação da camada pictórica. (fonte: foto de Silvana Borges, 2018).


Notas

[1] Franz Stuck (Tettenweis, Baviera. 23 de fevereiro de 1863 – Munique, 30 de agosto de 1928) foi pintor, gravurista, arquiteto e escultor alemão. Os seus temas são ligados principalmente à mitologia, inspirados na obra de Arnold Bocklin. Formas grandes dominam a maior parte de suas pinturas e indicam suas tendências para a escultura. Seus sedutores nus femininos são um excelente exemplo de um conteúdo simbolista popular.


Paula Regina Di Francesco Picciafuoco

Especialista em Restauração de Obras de Arte em Cavalete pelo NAR e MAS. Estagiária do Projeto de Restauração do Tríptico de Hélios Seelinger.


logo_rr_pp      EDIÇÃO n.3 2018       

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