A Igreja e o Pátio de São Pedro dos Clérigos em Recife: notas sobre sua história e perspectivas para sua conservação

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| Renata Cabral |

O historiador pernambucano José Luiz Mota Menezes, em introdução ao livro A Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife (1990), de autoria de Fernando Guerra de Souza, ressalta a ausência dessa igreja, cuja construção foi iniciada em 1728, em livros, litografias e cartões-postais, constatando que, por muito tempo, passou “como que ignorada dos documentadores e memorialistas da cidade do Recife”. Teria sido encontrada, segundo Menezes, apenas uma referência no século XVIII à igreja, na obra Desagravo do Brasil e Glória de Pernambuco, de Loreto Couto. Ainda segundo ele, nem o desenhista Luís Schlappriz, nem seu sucessor na litografia de F. Carls, Luís Krauss, tiveram interesse em retratá-la. Ela tampouco esteve na mira dos fotógrafos, como o convento e igreja do Carmo, retratados pelo fotógrafo Carneiro Vilela [1].

A igreja e o pátio não constariam de nenhum cartão-postal até 1930.  A exceção ficaria para a cartografia histórica e desenhos, como a perspectiva elaborada em 1759 pelo padre jesuíta José Caetano, cuja cópia foi incluída no livro Notícias Soteropolitanas e Brasílicas, concluído em 1803, de Luís dos Santos Vilhena. Para justificar tais ausências, Menezes levanta a hipótese da influência do mau estado de conservação da igreja em meados do século XIX, quando não havia interesse fotográfico e litográfico pela estética das ruínas ou pelos edifícios degradados.

No início do século XX, a igreja começa a ganhar espaço em registros textuais e iconográficos. As fontes desses registros são as mais diversas, como artigos em jornais, ofícios institucionais, planos urbanísticos e arquitetônicos. A partir dessas fontes, vai-se construindo um consenso, que alcança os dias de hoje, sobre a necessidade de preservação do lugar, assim como sobre sua potencialidade turística.

Os agentes envolvidos na construção desse consenso são muitos. Proponentes de reformas que alteram o desenho urbano do pátio, como Ulhôa Cintra e Delfim Amorim, provocam, em figuras como Ayrton Carvalho e Lúcio Costa, respostas preservacionistas às transformações projetadas. Outros agentes do patrimônio, como Augusto da Silva Telles, dão embasamento técnico à proposta de proteção institucional do conjunto do pátio de São Pedro. Personagens menos conhecidos, como Edgar Amorim, por sua vez, ocupando cargo de direção na Prefeitura da Cidade do Recife, propõe a ressignificação do pátio na perspectiva turística [2]. Não podemos deixar de sublinhar a valorização do lugar a partir dos autores de textos especializados, como Fernando Pio, com o livro Resumo Histórico da Igreja de São Pedro dos Clérigos, publicado em 1942; Pereira da Costa, com os Anais Pernambucanos, inédito até a década de 1950; Germain Bazin, com L’Architecture Religieuse Baroque au Brésil, (1956-8); José Antônio Gonçalves de Melo, com livro sobre o autor da planta da igreja, de 1957, e José Luiz Mota Menezes, com artigo intitulado Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife, escrito para a revista Universitas, em 1971, entre outros.

Nossa narrativa, contudo, privilegiará Gilberto Freyre (1900-1987), que manteve, nesse processo de valorização do pátio, uma história longeva, iniciada ainda nos anos 1920, e que nos parece ser aquele, hoje, que ainda pode lançar luz sobre o futuro do pátio de São Pedro, como será proposto ao final.

Na década de 1920, Freyre convidou o desenhista pernambucano Manoel Bandeira (1900-1964) para elaborar um desenho em bico de pena da igreja (Fig.1), a fim de ser publicado no livro comemorativo do 1º centenário do jornal Diário de Pernambuco, intitulado Livro do Nordeste (1925), com ensaios de diversos autores sobre a história e as tradições da região. Dentre os desenhos de Bandeira, incluindo personagens, aspectos da vida social e outras igrejas, o de São Pedro dos Clérigos encontra lugar de destaque no livro, sendo a segunda ilustração de página inteira; a primeira era a do Arco do Bom Jesus.

Fig.1. Desenho em bico de pena da igreja de São Pedro dos Clérigos, de autoria de Manoel Bandeira, no Livro do Nordeste (1925), à página oito (fonte: Acervo livros raros, Fundaj).

Freyre escreve uma legenda robusta para esse desenho de Bandeira, na qual a igreja e o pátio aparecem como elementos indissociáveis. O autor situa o conjunto como tendo valor, entre tantos outros atributos, por ser um espaço livre de haussmanismos, com uma integridade que não seria apenas física, mas também simbólica, onde passado e presente se misturariam, já que o espaço teria a capacidade de nos “transportar” para o “Recife dos nossos bisavós”: 

A Egreja de São Pedro dos Clérigos domina cathedralescamente todo um pátio. Um pátio onde as casas, algumas somente de andar térreo, outras de dois e três andares e águas furtadas, conservam certo ar mourisco de recato, que era outrora o ar de todo o bairro. Quase todos os telhados terminam nesse casario irregular, em beiral arrebitado: e nas portas e janellas o xadrez dos postigos como que nos transporta ao Recife dos nossos bisavós – ingênuo, mourisco, virgem de haussmanismo. À noite há aqui uma meia luz de romance; e nesta meia luz de romance a Egreja de São Pedro dos Clérigos toma um ar de cathedral peruana ou boliviana, dominando matriarchalmente a sua ‘plaza’. Uma ‘plaza’ de pouco movimento. Depois das nove da noite é um dos lugares no Recife, em que se pode estar mais só. Emquanto a dois passos, no pateo do Carmo, há movimento, tumulto, estridências de gritos de meninos vendendo midubim, risadas de mulheres, ruídos de orchestra, no de São Pedro se experimenta a sensação de estar no meio duma cidade que morreu [3].

Freyre retornara ao Brasil havia apenas dois anos (março de 1923), depois de uma experiência de estudos no exterior. Como afirmam Pallares-Burke e Burke [4], readaptar-se ao Brasil e voltar ao Recife foi um “choque cultural” para ele. Segundo os autores, ele teria voltado muito interessado na “cor local”, mas teria sido recebido por uma cidade que perdia seu caráter social e arquitetural, diante da busca frenética de se “‘modernizar’, ‘europeizar’ e ‘americanizar’”. O Recife “ingênuo, mourisco, virgem de haussmanismo”, que o Pátio de São Pedro representava, pode ser lido como um imagem urbana antagônica dessa mania de copiar o que se fazia fora do Brasil.

A igreja de São Pedro ainda será retratada pelas penas de Manoel Bandeira à página 148 (Fig. 2). Na legenda do desenho da varanda da igreja, qualifica-se o interior do templo religioso como “um dos mais ricos e característicos entre os interiores de egreja da capital pernambucana”.

Fig.2. Página 148 do Livro do Nordeste (1925), com desenho de Manoel Bandeira retratando varanda da igreja de São Pedro dos Clérigos (fonte: Acervo livros raros, Fundaj).

Também no Livro do Nordeste, encontra-se um artigo dedicado à história da cidade do Recife. O autor, Anníbal Fernandes [5], constrói uma narrativa em ordem cronológica, que termina no começo do século XX. Nele, ressalta, em sintonia com a legenda de  Freyre, o tipo de progresso que a cidade estava conquistando: “O que a cidade ganhou em progresso e desenvolvimento material, perdeu em pittoresco e feitio proprio. Não levamos em conta o contingente precioso de um passado tão rico em suggestões.” E, na sequência, fecha o texto com um parágrafo irônico e pessimista, ao constatar que “deixamos que tomasse vulto um Recife com ar de civilização de transatlantico, e onde debalde procuramos encontrar hoje um pouco de nós mesmos.” [6]

É importante anotar que, um ano antes da publicação do Livro do Nordeste, em 1924, Freyre ajudou a fundar o Centro Regionalista do Nordeste, que operava com a ideia, ainda segundo Pallares-Burke e Burke [7], de que o processo de modernização poderia admitir tradições brasileiras ou locais. Em 1926, o Centro organiza o 1o Congresso Regionalista do Nordeste, que contempla, em seu programa, um item dedicado à “defesa do patrimônio artístico e dos monumentos históricos”. Cantarelli registra que, durante o congresso, foram visitados diversos edifícios. Entre eles, a igreja de São Pedro dos Clérigos [8].

Em 1934, Freyre publica um Guia Prático, Histórico e sentimental da Cidade do Recife (Fig. 3). A igreja de São Pedro aparece referenciada primeiro em trecho em que Freyre anota, para o turista católico, os horários das missas aos domingos em diversas igrejas, após longo relato sobre as procissões e a caracterização das vestimentas de diversas irmandades e confrarias.

Fig.3. Capa da primeira edição do Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife, de 1934 (fonte: Acervo livros raros, Fundaj).

A entrada mais detalhada de Freyre nas igrejas inicia-se pelas “cousas sentimentais” e são indício da importância, para o autor, da dimensão imaterial, do cotidiano e da história íntima na relação com os bens de pedra e cal. Freyre anota que “o recifense não está ligado às suas igrejas só por devoção aos santos, mas de um modo lyrico, sentimental: porque se acostumou à voz dos sinos chamando missa, annunciando incendio; porque em momento de dôr ou aperreio, alcançou a graça; porque nas igrejas se casou, se baptisaram seus filhos e estão enterrados avós queridos.” [9]

Observa, contudo, que o “turista talvez não ache sabor nenhum nessas cousas sentimentaes; e só nas pittorescas e historicas”. Em sua narrativa, privilegia o barroco recifense em detrimento de, por exemplo, um certo “gothico de caricatura”, estrangeirismo superficial, distante do projeto de modernização de tônica regionalista. O barroco é aqui evidenciado por Freyre não pelo seu apuro artístico, mas, sobretudo, pelo amolecimento que ele tanto valorizava, presente em uns “avontades deliciosos” expressos em  atributos que exprimiriam espontaneidade e romantismo, como assimetrias e irregularidades. É nesse ponto que a igreja de São Pedro ganha destaque no texto do autor, sendo a primeira referenciada por ele, caracterizada como “uma das igrejas mais romanticas do Brasil”:  

Ás igrejas do Recife não faltam interesse histórico, muito menos riqueza do pittoresco. O estylo que predomina nellas é o barroco. Naturalmente não há no Recife nenhuma maravilha de arte religiosa. Nenhuma cathedral que se compare, já não diremos ás européas, mas do Mexico e do Peru. Mas o barroquismo, por naturesa [sic] romantico, exprimiu-se aqui nuns avontades deliciosos; numas assymetrias e irregularidades que dão ás nossas igrejas, como a toda a architetura colonial brasileira, um encontro intimo de espontaneidade, um não sei que de romantico, facil de sentir mas difficil de interpretar. O turista saia da Praça da Independencia e tome a rua Larga do Rosario, ao lado da igreja do Rosario, largue-se pela rua do Fogo a dentro, até o Pateo de São Pedro: ahi o espera uma das igrejas mais romanticas do Brasil – a de São Pedro do Clerigos. É co-cathedral. Domina um pateo onde sobradinhos e casas de porta-e-janella se agarram uma ás outras.

Logo a porta de São Pedro, de motivo barroco, é uma delícia. Sua torres, das mais bonitas que tem a cidade. Cada uma, com quatro tochas. De cada lado da igreja, uma desses lampeões tão recifenses, pegados na parede. No interior, altares entalhados, retabulos de talha dourada, jacarandás pretos, pulpitos bem trabalhados; uma pia de pedra portugueza [sic]. Merece uma visita a igreja de São Pedro – aliás, cathedral do Recife.

Freyre segue guiando o visitante por outras igrejas, ora ressaltando elementos arquitetônicos e de mobiliário, ora acontecimentos históricos, ora vislumbrando cenas cotidianas “testemunhadas” pelas igrejas, como a do Livramento, com seu nicho sempre iluminado à noite, qual um olho que visse tudo o que se passava de noite e de dia. Segundo Lira [10], podem-se identificar, no guia, em linhas gerais, três grandes roteiros, um deles esse que levaria à arte barroca e à arquitetura colonial, “verdadeiras balizas aos itinerários pelo centro histórico da cidade”. É a igreja de São Pedro um dos pontos de costura das visitas; como indica o autor, são visitas entremeadas de passeios pelos bairros tradicionais. Seria, ainda nas palavras de Lira, uma “espécie de evasão rumo a seus entornos cotidianos e sentimentais” [11].

A institucionalização do reconhecimente freyriano das qualidades da igreja de São Pedro dos Clérigos [12] ocorrerá, em parte, em 1938, quando a igreja é tombada em instância federal, pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) [13]. O Serviço é criado um ano antes, com o Decreto Lei no 25, de 30 de novembro de 1937. Sabe-se que Freyre era amigo do diretor fundador do DPHAN, Rodrigo Melo Franco de Andrade, que se dizia “discípulo” de Freyre [14]. Foi Andrade que o convidou a atuar como “representante máximo” do SPHAN na Quarta Região já em 1937, como nos informa Mesquita [15]. Segundo o autor, Freyre tinha amplos poderes de supervisão geral das atividades, bem como de coordenação da equipe técnica, que atuava diretamente na seleção, tombo e restauro dos bens materiais [16].

Em 1938, 215 bens foram inscritos em livros de tombo no Brasil, representando mais de um terço daqueles bens que serão preservados durante os 30 anos de gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade à frente da instituição [17]. Desse total, 13 tombamentos foram em Recife. No “mapa do Brasil passado” que Rubino (1996) desenha a partir dos dados sobre os tombamentos, percebe-se como o século XVIII, século da igreja de São Pedro, parece ser o século por excelência da memória nacional que está sendo construída na década de 1930.

Se, nas palavras de Freyre, a igreja, seu pátio, suas casas, são indissociáveis, pois dizem de um certo “ar” (poderíamos dizer, uma certa ambiência), a proteção institucional restringe-se, nesse momento, ao monumento, abrindo-se a possibilidade de projetos para o pátio, desde que, nos termos da lei, não fosse feita “construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade”.

Nos anos 1940 e 1950, duas figuras importantes para a história do urbanismo e da arquitetura no Brasil desenharão propostas que intervêm nesse espaço: o engenheiro paulista Ulhôa Cintra e o arquiteto português Delfim Amorim.

Por volta de 1943, Ulhôa Cintra, Diretor de Obras da Prefeitura de São Paulo, foi convidado pela Prefeitura do Recife para elaborar o Plano da Cidade do Recife, juntamente com a Comissão do Plano da Cidade. Antes, tinham sido elaborados os planos do engenheiro Domingos Ferreira, do arquiteto Nestor de Figueiredo e do urbanista Atílio Correia Lima, sucessivamente, em período que se estendeu desde o começo da década de 1930. Como parte integrante de sua proposta, Ulhôa Cintra propôs um perímetro de irradiação que partiria de um aterro a ser realizado na confluência dos rios Capibaribe e Beberibe, por meio de duas pontes, sendo uma na direção do bairro de Santo Antônio, e outra na do Bairro do Recife.

No bairro de Santo Antônio estava prevista a abertura de algumas vias para a implantação do Perímetro de Irradiação. Cintra chegou a detalhar a solução viária para o trecho próximo às igrejas do Carmo e de São Pedro dos Clérigos. Nesse detalhamento (Fig. 4), veem-se a abertura de vias e o encontro delas na frente da igreja da Ordem Terceira do Carmo, da basílica de Nossa Senhora do Carmo e da igreja de São Pedro. O Pátio de São Pedro é reduzido em profundidade e é aberto para uma dessas avenidas.

Fig.4. Planta de detalhe do “estudo de remodelação da zona central da cidade do Recife” de autoria de Ulhôa Cintra.
A igreja de São Pedro é a que se vê mais à esquerda do desenho. A outra é a igreja do Carmo (fonte: Revista Arquivos. Recife. PMR/DEPT, ano 2, n.1 e 2, dez/1943).

A avenida que aparece logo à esquerda, paralela ao corpo da igreja de São Pedro dos Clérigos, é a atual avenida Dantas Barreto, que já em 1943 começaria a ser aberta nesse trecho, eliminando o pátio da igreja do Carmo. A avenida que abriria o pátio de São Pedro não foi executada, e por isso a perda da coesão do espaço não se concretizou.

Em 1952, dois anos depois de alterado o traçado do perímetro de irradiação pela Comissão do Plano da Cidade, Ayrton Carvalho faz referência à necessidade de se promover a restauração do casario, lançando uma valoração positiva ao conjunto e sua “feição”. Segundo ele, “A Comissão do Plano da Cidade conservou não só o pátio, como as duas ruas que correm ao longo das fachadas laterais do templo, procurando assim conservar a feição primitiva do local, para o que será necessária efetivar restaurações de várias fachadas de edifícios alí localizados.” [18]

Em 1956, segundo Köhler, Edgar Amorim, então Diretor de Urbanismo da Prefeitura da Cidade do Recife, apresenta uma proposta dessa instituição ao periódico Diário de Pernambuco, com alternativas para transformar o local em um centro de turismo [19]. A proposta previa a desapropriação de todo o casario civil do Pátio de São Pedro e o estabelecimento de um tipo de comércio que atraísse o turista, como restaurantes de comida regional, lojas com objetos nordestinos e venda de frutas.

Dois anos depois dessa proposta, não efetivada, a integridade da configuração urbana do pátio também foi colocada em risco, quando o arquiteto português Delfim Amorim, importante figura para a consolidação de uma cultura arquitetônica modernista na cidade, elabora projeto para o lugar.

Nesse projeto, pelo menos duas quadras do Pátio seriam demolidas. A quadra em frente à igreja seria substituída por um bloco comercial com sete pavimentos – altura, naquele momento, preconizada pela Prefeitura do Recife para as edificações nas ruas transversais à Avenida Dantas Barreto, nos quarteirões vizinhos a ela (Fig. 5).

A outra quadra a ser demolida seria aquela lateral à igreja, que margeia a Av. Dantas Barreto (Fig. 5), abrindo o Pátio de São Pedro para essa avenida. Numa outra hipótese, ela seria substituída por um edifício em pilotis, o qual manteria a forma do pátio (Fig. 6).

Fig.5. Detalhe da planta do ante-projeto do Edifício Silva Moreira, com a perspectiva a partir da Av. Dantas Barreto, que representa a hipótese de “alargamento do pátio incluindo-o na Av. Dantas Barreto”. Autor do projeto: Delfim Amorim (fonte: Biblioteca Almeida Cunha, 5ª Superintendência Regional do Iphan – 5ª SR – IPHAN).

Fig.6. Detalhe da planta do ante-projeto do Edifício Silva Moreira, com perspectiva a partir do próprio pátio. Em caneta, há referência a ser essa a hipótese de “conservação do pátio” (fonte: Biblioteca Almeida Cunha, 5ª Superintendência Regional do Iphan – 5ª SR – IPHAN).

Como se tratava das vizinhanças imediatas de um bem tombado, a Prefeitura Municipal do Recife encaminhou o caso à DPHAN.

Para justificar suas escolhas projetuais junto aos poderes competentes, Delfim Amorim argumenta que, ao conceber o edifício em altura com uma base de dois pavimentos, houve respeito “aos valores de ambiência, proximidade e atmosfera” que envolvem a igreja de São Pedro e que o edifício, com tal artifício, ajudaria a fazer a transição entre a igreja e os edifícios em altura que estavam sendo construídos nas proximidades. O arquiteto também argumenta a partir dos termos da lei, e defende que não existiria nenhuma obstrução à visibilidade da igreja, já que ela só é visível de perto; tampouco existiria algum ponto de observação nas ruas que convergem para o pátio, capaz de associar os dois edifícios num único ângulo de visão.

O 1o Distrito do DPHAN, na figura de Ayrton Carvalho, encaminha, em 1958, um pedido ao Diretor-Geral do DPHAN para dar parecer sobre a proposta de gabarito do projeto de Delfim Amorim. Carvalho concorda com as argumentações de Delfim Amorim. Segundo ele, “o trabalho apresentado, parece pretender respeitar o Páteo de São Pedro, criando os dois primeiros pavimentos no alinhamento da praça atual e recuando os restantes, cerca de 5,00m, a fim de manter em torno do pátio uma altura constante e um conjunto inofensivo para a Igreja.”

Contudo, dois meses depois, o Diretor-Geral, o arquiteto Lúcio Costa, maior nome na defesa de uma arquitetura modernista no país e figura central do DPHAN nesse momento de desenho da memória nacional, impugna o projeto, entendendo-o como estimulador da especulação imobiliária via verticalização:

A sugestão para o Pátio de São Pedro, agora renovada, já havia sido impugnada. Interessa à DPHAN a manutenção das alturas atuais das casas, conquanto diferentes entre si (um, dois, três pavimentos), a fim de desestimular ali qualquer iniciativa mobiliária. Compete, pois, ao Chefe do 1o Distrito entender-se com as autoridades municipais responsáveis, no sentido de tornar tal limitação efetiva.

Em 1963, Freyre publica um artigo, “A favor do Pátio de São Pedro”, em que explicita sempre ter sonhado com um “destino” para esse espaço. Freyre frisa que esse destino não deveria “artificializar” o pátio, qual um “pátio de teatro lírico ou de museu histórico”. Ele usa o verbo “acentuar”, que marca a continuidade do existente em detrimento de sua transformação, para expressar o desejo de valorização das tradições e valores “brasileiros, em geral, e recifenses, em particular.” A continuidade Freyriana traduzia-se em tônica regional. A palavra “típico” é usada duas vezes para expressar essa ideia de tradição recifense. Além de explicitar usos como lojas de antiguidade, artigos folclóricos, ateliês de artistas, chega a citar nomes de negócios em suas sugestões, como o sebo Brandão. O pequeno artigo chama à ação: “Porque não se trata disso enquanto é tempo? Não é o sonho nem fantástico nem absurdo”.  

A Maria Borralheira é reconhecida como princesa

Em face das transformações nos bairros de Santo Antônio e São José, em 1965 foi aprovado o Plano de Gabaritos, considerado o primeiro instrumento municipal de conservação, que consiste em uma planta de zoneamento que fixava alturas nas proximidades de monumentos desses dois bairros, em iniciativa conjunta da Prefeitura Municipal do Recife (PMR) e do 1º Distrito Regional da Diretoria do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (DPHAN). Para as construções circunvizinhas ao Pátio de São Pedro, estabeleceu-se no plano um gabarito de um e dois pavimentos.

Nesse mesmo ano, o poder municipal elabora uma proposta pensando o pátio como centro de turismo. Ela incluía a desapropriação das casas, a instalação de um Museu Popular e uma Galeria de Arte, e a montagem de uma loja destinada à venda de souvenires. Em 1967, outra proposta é pensada com a instalação de hotéis, lojas de artesanato, casas de diversão e sedes de entidades culturais e artísticas [20].

Mesmo com o Plano de Gabaritos já aprovado, o DPHAN entendeu que o conjunto merecia ser protegido pelo instrumento do tombamento em nível federal. A proposta, de novembro de 1968, foi fundamentada por Augusto da Silva Telles, arquiteto da instituição. [21]

Em sua proposta, Telles caracteriza as edificações civis do pátio como “moldura” da igreja, conferindo “escala ao templo, valorizando devidamente sua nobre e alta frontaria”. Demonstra perceber, claramente, a importância do conjunto em si, enquanto conjunto harmônico, formador de certa “ambiência”:

O projeto de urbanização aprovado há pouco mais de ano pela Prefeitura Municipal do Recife, graças ao pioneiro trabalho do 1o Distrito desta Repartição, estabeleceu para êste logradouro o gabarito de 1 e 2 pavimentos. Resolvendo esta medida o problema da escala e da visibilidade do monumento, não resolveria o da ambiência, pois que com a ocorrência de reformas de frontarias e cobertas das várias edificações, visando moderniza-las, perder-se-ia, por completo, a harmonia ainda existente, e que urge tudo se fazer por preservar. [22]

A proposta de Telles ocorre dois anos após a promulgação da Carta de Veneza, no II Congresso Internacional de Arquitetos e de Técnicos de Monumentos Históricos. O Brasil foi signatário da Carta, logo divulgada e conhecida no Brasil [23].  Nas aulas de Telles em cursos de Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos Urbanos, realizadas uma década depois, a Carta de Veneza “foi extensa e fundamentadamente perscrutada” [24]. Nascimento assevera que as aulas do professor tratavam da legislação e dos conceitos de ambiência urbana, arquitetura “menor” e do valor documental da cidade e da arquitetura. [25]

A proposta de Telles recebe o aval de Paulo Thedim Barreto, Chefe da Seção de Arte, e de Lúcio Costa, em dezembro de 1966 [26]. O processo é formado (Proc. 123-T-38) e segue para a relatoria do arquiteto Paulo Ferreira Santos, que emite parecer favorável, em janeiro de 1968, amparado nas argumentações já postas [27]. Em março, o Conselho Consultivo do DPHAN aprovou, por unanimidade, o voto do relator [28], tombando todo o conjunto, cujo polígono se acha no mapa seguinte (Fig. 7).

Fig.7. Polígono de tombamento do IPHAN (fonte: Acervo 5ª Superintendência Regional do Iphan – 5ª SR – IPHAN).

Em 1969, a Prefeitura do Recife realizou projeto de reabilitação do Pátio para fins turísticos [29]. Antes dessa intervenção, a vida cotidiana do Pátio costumava ser vista como exemplo de precariedade, como mostra artigo de jornal publicado no Diário de Pernambuco: “Fala-se muito de turismo mas ninguém trata de limpar a cidade. Basta ver ali a igreja de São Pedro. Num dos oitões, os montões de lixos, de tão altos, quase atingem as torres do tradicional templo. Já no outro chovem as cascas de banana, tripas de galinha, rabos de peixe e um esgoto entupido para completar. E ainda se fala em Turismo nesta terra” [30].

Na ocasião, foi elaborado um projeto de restauração do conjunto pelo arquiteto José Luiz Mota Menezes, colaborador do 1o Distrito do DPHAN, em parceria com a arquiteta Lígia Martins Costa. Nessa intervenção (Fig. 8), segundo depoimento de Menezes [31], foram retirados alguns adornos das fachadas das casas, assim como tintas das cantarias; foi, ainda, proibida a entrada de veículos, e foram mantidas as platibandas de edificações que originalmente tinham beirais. A escolha por preservar as platibandas foi feita com o intuito de manter a unidade do conjunto.

Fig.8. Foto do casario depois de reforma na década de 1960 (fonte: Acervo 5ª Superintendência Regional do Iphan – 5ª SR – IPHAN).

No contexto do novo projeto, o tombamento foi fundamental para amparar os pedidos de desapropriação por parte da Prefeitura [32]. Segundo Köhler [33], a Prefeitura desapropriou 18 das 31 casas do pátio, desalojando os negócios tradicionais que operavam no local, como amoladores de facas, tesouras e alicates, depósitos de batata e cebola, bares e restaurantes populares e uma funilaria.

A proposta de tornar o Pátio de São Pedro em lugar turístico é apoiada por Gilberto Freyre em artigo publicado no Diário de Pernambuco de 25 de maio de 1969, intitulado “Em louvor da Igreja de São Pedro e do seu pátio”. Ele inicia o artigo aprovando a iniciativa do então prefeito Geraldo Magalhães de Melo, “no sentido de fazer-se do Pátio de São Pedro um centro cultural, além de turístico”. Assevera que, caso não o fizesse, seria como “negar-me a mim mesmo”, atribuindo a si o papel de verdadeiro “consorte” da igreja. Nesse mesmo artigo, Freyre registra que na década de 1920, quando voltou da Europa, a igreja de São Pedro e seu pátio eram a “Maria Borralheira” entre os demais da cidade. Utiliza as palavras “descobrir” e “revelar” para mostrar sua contribuição a uma nova forma de ver a igreja e seu pátio. E anota que “estrangeiro ilustre algum, dos que me procuram quando passam pelo Recife, tenho deixado que saia do Brasil sem visitá-la”.

Como visto anteriormente, para Gilberto Freyre, a ideia de dar nova vida ao pátio representava uma vitória contra as transformações rápidas e modernizadoras por que passava o Recife; seria ter o pátio como “verdadeiro centro do Recife de sempre: do Recife superior aos tempos, aos progressos, às modernices. O Recife constante. O Recife irredutível”. Mais do que isso, seria também a vitória da valorização do regional, que ele já vinha defendendo desde os dias do Movimento Regionalista, nos anos 1920, expresso na sugestão de usos do pátio, que deveria ter, segundo ele, por exemplo, “baianas” “com seus tabuleiros de peixe frito, de tapioca, de milho assado, de grude, de mamé”.

As desapropriações feitas pela Prefeitura foram combinadas com a instalação de novos usos voltados para uma tônica regional. Foi aberto no local, como nos lembra Rubem Franca [34], um restaurante chamado A Taberna, cuja especialidade era ovo de boi; a loja Artene, que vendia peneiras, panôs, gamelas, rendas renascença, tapetes; o restaurante Meu Refúgio, Pratos Regionais, que oferecia chambaril, galinha de cabidela, charque de coco, dobradinha, feijão- verde; o Bar Aroeira, que vendia carne de sol, mariscos e sarapatel; a loja Azulão, com artesanato; a Mulher Rendeira, com rendas e redes, chapéus, etc.; a loja A Tartaruga, com objetos de casco de tartaruga confeccionados por A. Xisto, desde 1919; a Livraria Cordel, que vendia folhetos, livros sobre o Recife, discos, esculturas, xilogravuras, talhas, telas, cerâmicas; além de outros estabelecimentos comerciais como a Bodega 21, com a venda de especiarias e produtos tipicamente pernambucanos, e o Bumba-meu-bar, com a venda de refrescos, sucos, sorvetes e batidas de frutas típicas pernambucanas.

Havia também estabelecimentos dedicados diretamente ao turismo, como a agência Tropical Tours, além da sede, do escritório administrativo e da biblioteca turística da Empresa Metropolitana de Turismo. Além disso, depois da intervenção, a Prefeitura Municipal passou a apoiar as manifestações de cultura popular praticadas em Pernambuco, promovendo cirandas, repentistas, violeiros, cantigas de roda, serestas, quadrilhas matutas, concertos, bandas, forrós etc.

É importante anotar que, nesse momento, o turismo e o patrimônio estão sendo pensados de forma imbricada no Brasil e internacionalmente. Já em 1973 será lançado pelo governo federal brasileiro o Programa de Cidades Históricas (PCH), implementado pelo Ministério do Planejamento para a reativação econômica dos centros históricos, via turismo [35].

A partir da intervenção, o pátio e a igreja foram reinventados. Davam-se os primeiros passos, decisivos, para a museificação do lugar. Por ofício do chefe do 1o Distrito do DPHAN [36], Ayrton Carvalho, ao Diretor-Geral dessa instituição, datado de 14 de maio de 1970, percebe-se que nem mesmo a igreja seria poupada dos planos da Prefeitura. Carvalho relata que o então Prefeito, Geraldo de Magalhães Melo, solicita aproveitamento da igreja de São Pedro, com exceção da nave e da sacristia, para instalar um museu de arte sacra. Segundo Carvalho, o Prefeito invoca, como argumento, o fato de o pátio estar se transformando em centro de interesse turístico. O contra-argumento de Carvalho é que se trata de “um templo aberto ao culto público, preferido, atualmente, para os atos religiosos mais solenes, sem esquecer os casamentos, que ali se realizam semanalmente, com grande assistência, sendo, ainda, como Concatedral, sede do Cabido, que ali tem depositados todos os seus documentos e ali realiza as suas reuniões periódicas.” O museu não será instalado.

A oposição entre a demanda do Prefeito, que privilegia o interesse turístico, e a visão demonstrada por Carvalho, que percebe a importância da igreja para a vida cotidiana, faz lembrar o cartum que o historiador Ulpiano Bezerra de Meneses toma como referência para sua conferência sobre a necessidade atual de revisão de premissas no campo do patrimônio cultural. O cartum retrata uma cena de um turista em uma igreja, tocando os ombros de uma anciã, habitante do lugar, que rezava sozinha, e dizendo a ela: “Minha senhora, a senhora está perturbando a visitação.” O autor trabalha a ideia de que a partir do turista a cultura é entendida como um domínio à parte na vida. Para ele, em contraponto, com a velhinha,

a cultura se apresenta não como esse segmento recortado da vida, mas como uma forma de qualificar diferencialmente (pelo sentido, pela significação, pelo valor) qualquer fatia, instância, tempo, objeto ou prática. O uso que a velhinha faz do bem cultural é qualificadamente existencial, por oposição ao ‘uso cultural’ dos turistas. O uso cultural da cultura ao invés de estabelecer uma interação das representações e práticas, privilegia as representações que eliminam as práticas. O simbólico substitui as condições concretas de produção e reprodução da vida [37].

O autor observa que suas palavras não procuram demonizar a figura do turista, mas alertar para a situação perversa de que o regional, o nacional ou o universal, para se realizarem, “esvaziem outros legítimos sentidos e práticas originais locais, que não correspondem mais a uma nova ordem de interesses.” [38]

Um pátio ainda a ser reinventado

O pátio, depois dessa primeira revitalização, tem sido reinventado constantemente, sendo objeto de diversos projetos de recuperação arquitetônica e de mudança de uso, sempre na perspectiva de “culturalização”, que o distancia das pessoas que usam habitualmente o bairro de São José.

A segunda intervenção teve seu início em 1986, quando, segundo Köhler (2010), mais três casas foram despropriadas. Notícia de 1988 revela que, no início das obras, a infraestrutura no pátio não era ainda um problema resolvido [39].

Foi firmado um convênio entre a Prefeitura da Cidade do Recife e o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, visando à realização de algumas obras prioritárias, mas a falta de recursos terminou por restringir as obras a parte da drenagem do pátio e restauro da casa de número 48 [40].

Uma terceira intervenção ocorreu na gestão de Joaquim Francisco (1989-1992). Três casas foram restauradas para abrigar uma galeria de arte, o Museu de Arte Popular e a Casa do Carnaval. Em 1990, tiveram início obras viabilizadas por meio de convênio entre a Prefeitura da Cidade do Recife e o Grupo BASF, projeto que ganhou o nome de Suvinil, Cor, Arquitetura e Memória, priorizando a restauração e a pintura das fachadas. Uma ação caracterizada por Köhler [41]  como fachadista e pouco duradoura. 

Em documento da Prefeitura da Cidade do Recife, intitulado Projeto de Revitalização do Pátio de São Pedro, encontra-se uma proposição voltada para a dinâmica econômica e cultural do local, que teria sido elaborada por volta de 1995, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Embasados em pesquisa de mercado aplicada pelo SEBRAE, foram definidos usos para o pátio, a partir de um mix que incluía quatro tipos de restaurantes, bares, lanchonetes e serviços. E dois imóveis tinham caráter cultural: um antiquário e um destinado a “produto cultural”.

Uma proposta de 1998 da Prefeitura, semelhante à de 1995, porém ainda mais voltada a estabelecimentos ligados à alimentação, foi encaminhada ao IPHAN para aprovação nesse ano [42]. A chefe da Divisão Técnica da 5a Regional do IPHAN sugere à superintendente em exercício que os imóveis que terão usos relacionados com a alimentação priorizem a comida nordestina, e que dois imóveis de propriedade do IPHAN não sejam restaurantes, como estava previsto na proposta [43].

A superintendente substituta da 5a Regional do IPHAN, Silvia Katz, sugere que a proposta busque uma maior diversificação no uso dos imóveis. Segundo ela, “pelo apresentado, o Pátio de São Pedro se transformará praticamente em ‘Praça de Alimentação’, nos moldes dos existentes nos Shopping Centers, quando poderia abrigar, além de um determinado número de restaurantes, outras atividades de cunho cultural voltadas ao interesse do turista e da população local.” [44]

Com alterações, o projeto foi “inaugurado” em 2000. Na gestão seguinte da Prefeitura Municipal (2001-2008), iniciou-se um projeto de Mix Cultural para o Pátio, fruto de uma parceria estabelecida com o Governo do Estado. Foram projetados usos para o pátio, voltados para a cultura, como o Centro de Design, pontos de artesanato, o Anexo do Museu de Arte Contemporânea Aluísio Magalhães (MAMAM), um Memorial do cantor Chico Science, o Museu de Arte Popular, o Instituto Vida, o Memorial do cantor Luiz Gonzaga, além do Escritório técnico do Pátio, e dos bares e restaurantes já existentes.

Alguns desses equipamentos, atualmente já se encontram fechados, como é o caso do Museu de Arte Popular, que, por problemas estruturais, foi fechado para visitação, atualmente abrigando apenas o acervo da instituição. Os imóveis mais utilizados por pessoas que não são turistas são restaurantes como o Buraquinho, existente desde a década de 1980.

No entorno do pátio, a vida cotidiana de São José destaca-se como extremamente dinâmica, com predominância de pontos comerciais das mais variadas especialidades, a atrair grande fluxo de pessoas. São negócios voltados para produtos consumidos por pessoas com nível de renda baixo, como alternativa aos valores mais altos dos shopping centers da cidade. Nas ruas laterais à igreja, problemas sérios, como consumo de droga e prostituição, marcam de forma ainda mais acentuada o caráter distintivo do pátio.

Se as políticas de preservação federal e gestão local conseguiram manter relativamente bem a integridade arquitetônica e urbana da igreja e seu pátio, assim como seu ordenamento urbano (ao coibir a instalação de ambulantes, diferentemente do que acontece no entorno), por outro lado, parece continuamente fracassar, ao visualizar esse lugar como algo descolado da vida cotidiana do bairro. Os usuários do comércio do bairro de São José atravessam o pátio sem entrar em seus equipamentos culturais. A igreja, por sua vez, parece ser uma importante permanência, por não ter se tornado apenas um equipamente cultural, como vislumbrou o prefeito Geraldo de Magalhães Melo, em 1970. Atualmente, depois de cinco anos de obra, ela foi aberta ao público.  De qualquer forma, já foi incorporada, recentemente, em programa da Prefeitura do Recife, intitulado Recife Sagrado. A Prefeitura viabiliza a presença de estudantes de Turismo, História e Museologia, que recebem os visitantes e apresentam os aspectos históricos, artísticos, arquitetônicos e religiosos das edificações, segundo Bráulio Moura, gerente de projetos turísticos. Moura revela que as igrejas que fazem parte do programa “foram escolhidas por seu apelo estético, histórico e turístico, estando integradas a outros bens culturais e atrativos, possibilitando diversificar a oferta turística na região.” [45] 

Como visto neste breve ensaio, desde a década de 1960 um processo de culturalização do pátio de São Pedro ocorreu intensamente. O valor arquitetônico e urbano do lugar atribuído por intelectuais como Freyre deu força a essas transformações, as quais expressavam os desejos de tornar esses bens em “bens culturais”. Essas transformações foram acompanhadas por desapropriações e muitas propostas de mudança de uso e de recuperação dos imóveis por parte do poder público. A igreja, de Maria Borralheira, passou a princesa e, esnobemente, parece ter se afastado dos comuns.

Apesar de Freyre não ter dado à narrativa sobre a igreja e ao pátio de São Pedro dos Clérigos, nas obras aqui citadas, uma tônica marcadamente antropológica, como o faz, por exemplo, com a igreja do Livramento no Guia, com seu nicho sempre iluminado à noite, qual um olho que via as ações cotidianas do entorno, como vimos anteriormente, sabe-se que a dimensão antropológica é marcante em sua História Social. Quem sabe se Freyre, agora de uma outra maneira, não venha a inspirar o poder público e volte a ser o príncipe consorte da igreja e seu pátio, iluminando as transformações vindouras para esse lugar, colocando na pauta dessa transformação a importância dessa dimensão?

Fig.9. Igreja de São Pedro dos Clérigos em 1938 (fonte: Acervo Fundaj).


Notas

[1] Sobre a importância de Edgar Amorim no processo de transformação turística do pátio, ver KÖHLER, André Fontan. Políticas públicas de regeneração urbana, preservação do patrimônio e lazer e turismo: padrões de intervenção pública e avaliação de resultados no Pátio de São Pedro, Recife, 1969- 2008. Tese (doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2011.

[2] Este texto faz uso de contribuições da autora ao projeto intitulado Divulgação Turística do Pátio de São Pedro dos Clérigos no Recife, realizado pelo Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI), em 2007, com financiamento do Governo Federal, sob coordenação da arquiteta Mônica Harchambois.

[3] A grafia original dos textos de Freyre foi mantida.

[4] PALLARES-BURKE, Maria Lúcia; BURKE, Peter. Repensando os trópicos: um retrato intelectual de Gilberto Freyre. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 65.

[5] Sobre Anníbal Fernandes e sua contribuição como primeiro inspetor da Inspetoria Estadual dos Monumentos Nacionais de Pernambuco, criada pelo Governador Estácio Coimbra, através da Lei no 1.918, de 28 de agosto de 1928, ver CANTARELLI, Rodrigo. Contra a conspiração da ignorância com a maldade. A Inspetoria de Monumentos de Pernambuco. Recife: Massangana, 2016.

[6] FERNANDES, Anníbal. Recife. In: FREYRE, Gilberto e outros. Livro do Nordeste, comemorativo do 1º centenário do Diario de Pernambuco. Recife: Diário de Pernambuco, 1. ed., 1925, p. 28.

[7] PALLARES-BURKE, Maria Lúcia; BURKE, Peter, op. cit., p. 67.

[8] CANTARELLI, Rodrigo, op. cit., p. 85.

[9] Os trechos citados do Guia foram retirados da sua primeira edição, não paginada. Manteve-se a grafia original.

[10] LIRA, José Tavares Correia de. Naufrágio e galanteio: viagem, cultura e cidade em Mário de Andrade e Gilberto Freyre. Revista Brasileira de Estudos Sociais, vol. 20, n.57, fev. 2005, p. 166.

[11] Ibidem.

[12] São também importantes nesse processo de valorização da igreja alguns livros ou artigos escritos, como o livro de Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, inédito até a década de 1950; o texto escrito por Robert Smith para a revista Estados Brasileiros, em 1940; o de Germain Bazin, L’Architecture Religieuse Baroque au Brésil, 1956-8 e Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil, de 1983; o de Fernando Pio, Resumo Histórico da Igreja de São Pedro dos Clérigos, publicado em 1942; o de José Antônio Gonçalves de Melo sobre o autor da planta da igreja, de 1957, e o artigo de José Luiz Mota Menezes, intitulado Igreja de São Pedro dos Clérigos do Recife, escrito para a revista Universitas em 1971, dentre outros.

[13] Sobre as denominações do IPHAN ao longo dos anos: Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), de 1937 a 1946; Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), de 1946 à 1970; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), de 1970 a 1979; Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), de 1979 a 1990; Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC), de 1990 a 1994; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), a partir de 1994.

[14] Pallares-Burke e Burke, op. cit., p. 70.

[15] MESQUITA, Gustavo. Gilberto Freyre e o Estado Novo. Região, nação e modernidade. São Paulo: Global, 2018. 1ª edição digital (e-book), cap.3, p.6/55.

[16] Ibid., cap.3, p.15-16/55.

[17] Ver RUBINO, Silvana. O mapa do Brasil passado. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 24, p. 97-105, 1996.

[18] Carvalho apud Köhler, 2011, op. cit., p. 255.

[19] Köhler, 2011, op. cit., p. 258-59.

[20] Ibid., p. 260.

[21] Cartas trocadas entre Telles e o arquiteto José Luiz Mota Menezes, alagoano radicado em Recife desde os 9 anos, mostram a colaboração desse último como consultor.

[22] “Proposta de extensão do tombamento da igreja de São Pedro dos Clérigos, com a inclusão do Conjunto Arquitetônico do Pátio de São Pedro, com os lanços de casas que o envolvem e os que ladeiam a igreja, até as de nos 63 e 146, Recife-PE”

[23] NASCIMENTO, Flávia Brito do. Patrimônio Cultural e escrita da história: a hipótese do documento na prática do Iphan nos anos 1980. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 24. n.3. p. 121-14 . set.-dez. 2016, p. 124.

[24] Ver KÜHL, Beatriz Mugayar. Notas sobre a Carta de Veneza. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 287-320, jul.-dez. 2010, p. 297-8. Ela refere-se, nesse caso, ao curso de 1974, realizado em São Paulo.

[25] NASCIMENTO, 2016, op. cit., p. 125. A autora refere-se ao curso de 1976, realizado em Recife, transcrevendo, à página 125, trecho da ementa da disciplina Teoria da Conservação de Telles: “Análise dos conceitos de monumento e de bem cultural – sua ambientação – a ‘mise-en-valeur’ ou valorização – sua integração ao entorno em que se situa e o testemunho histórico que representa – estudo através das definições dos documentos internacionais/ regionais.”

[26] Documento do DPHAN, com o de acordo de Paulo Barreto e Lúcio Costa na mesma folha. O primeiro refere-se à necessidade de “conservar a ambiência”, e o segundo diz estar de acordo, “uma vez – exceptuada a casa n.21, com frontaria e platibandas azulejadas – que sejam restablecidos os primitivos beirais”. Fonte:  Vol. 1 do Processo de Tombamento nº 0123-T-38, Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro)

[27] Fonte: Vol. 1 do Processo de Tombamento nº 0123-T-38, Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro.

[28] Ata da quinquagésima sessão ordinária do Conselho Consultivo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Datilografado. Fonte: Fonte:  Vol. 1 do Processo de Tombamento nº 0123-T-38, Arquivo Central do IPHAN – Seção Rio de Janeiro

[29] Projeto intitulado Centro Permanente de Turismo do Recife. Para aprofundamentos sobre a gestão do Centro, ver Köhler, 2011, que estuda o Pátio de São Pedro no contexto de diversas gestões municipais.

[30] Diário de Pernambuco, de 15 de setembro de 1966, artigo intitulado “Sujeira”.

[31] Entrevista realizada em 26/9/2006. Fonte: acervo da pesquisa Divulgação Turística do Pátio de São Pedro dos Clérigos no Recife, realizada pelo Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada (CECI).

[32] Ver Ofício n.36/69/D em 28.05.1969, do Chefe do 1o Distrito do DPHAN, Ayrton Carvalho, ao Sr. Juiz da 14a Vara e Privativa dos Feitos das Fazendas Estadual e Municipal (IMG 7778), prestando esclarecimentos sobre os aspectos legais do tombamento dos imóveis do Pátio de São Pedro, argumentando em prol da declaração de utilidade e necessidade pública das casas de número 21 e 88, de propriedade dos Armazens Meirelles Comércio S.A.

[33] KÖHLER, André Fontan. Patrimônio, Memória e Turismo: Evolução e Entrelaçamento de Políticas Públicas no Pátio de São Pedro (Recife, PE). VII Seminário da Associação Nacional Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo. 20 e 21 de setembro de 2010 – Universidade Anhembi Morumbi – UAM/ São Paulo/SP, p. 8.

[34] FRANCA, Rubem. Monumentos do Recife. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1977.

[35] Sobre o PCH, ver Sandra Rafaela Magalhães Corrêa (2012) e dossiê especial do periódico Anais do Museu Paulista (v. 24. n.1. Jan.-Abr. 2016).

[36] Ofício n. 056/70/P. Fonte: Acervo da 5a Regional do IPHAN, Recife-PE.

[37] MENESES, Ulpiano Bezerra de. O Campo do Patrimônio Cultural: uma revisão de premissas. In: IPHAN. I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural: Sistema Nacional de Patrimônio Cultural: desafios, estratégias e experiências para uma nova gestão, Ouro Preto/MG, 2009. Brasília, DF: Iphan, 2012, p. 29.

[38] Ibidem. Ver também reflexões do tema em Françoise Choay, Patrimonio e Globalizzazione (Napoli: Alinea, 2012) e Patrimônio em questão: antologia para um combate (Belo Horizonte: Fino Traço, 2011).

[39] Publicada no jornal Diário de Pernambuco de 11/8/88 e intitulada Sujeira no Pátio: “Os residentes do casarão situado no início da Rua de São Pedro, a principal de acesso àquele centro turístico, estão jogando fezes no meio da rua e na parede da Livraria Cordel. Isso vem ocorrendo diariamente. Será que naquele prédio não existe sanitário? Quem transitar pelo local, tome cuidado, porque daqui a pouco vai cair na cabeça de alguém. É caso de polícia. Faz-se necessário que a Santa Casa de Misericórdia tome providência urgente retirando os vândalos ali residentes.”

[40] Köhler, 2011, op. cit., p. 352.

[41] Ibid., p. 369 e 372.

[42] Ofício n.546/98, da Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes da Prefeitura do Recife, de 24 de dezembro de 1998. Encaminhado por Maria Lucina Arcoverde, Assessora Técnica. Fonte: Arquivo da 5a SR/IPHAN.

[43] Informação n. 02/MEA/99/5a SR/IPHAN/MinC, de 6 de janeiro de 1999. Assunto: proposta de uso dos imóveis do Pátio de São Pedro – Recife. Assinada por Marta D’Emery Alves, Chefe da Divisão Técnica da 5a SR/IPHAN/MinC.

[44] Ofício n. 010/99/5a SR/IPHAN/MinC. Recife, 14 de janeiro de 1999. Assinado por Silva Katz, Superintendente Regional Substituta da 5a SR/IPHAN. Fonte: Arquivo da 5a SR/IPHAN.

[45] Informações fornecidas à autora por e-mail em 25 de janeiro de 2018.


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Renata Cabral

Docente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Vice-líder do Laboratório de Urbanismo e Patrimônio (LUP/MDU). E-mail: renatacabral@yahoo.com.br


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